segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O Desvirtuamento dos Jogos Olímpicos

Os jogos olímpicos ressurgiram pela ação do Barão Pierre Coubertin, educólogo que acreditava no esporte como parte da educação de todo jovem.

"Mens sana in corpore sano", mente sadia num corpo sadio.

A ideia nunca foi valorizar o esporte como fim, mas como um complemento.

A ideia era ter profissionais de várias áreas com saúde e corpo atlético, e nunca profissionais do esporte como um fim por si mesmo.

O que era uma ação pedagógica para incentivar jovens a fazer mais esporte, infelizmente se tornou ao longo destes anos uma política pública governamental para mostrar a "superioridade e a riqueza das nações".

Governos de todos os tipos, nacionalistas, socialistas e democráticos começaram a financiar jovens a se tornar esportistas profissionais.

Os mais notórios exemplos foram Cuba, China e União Soviética, que procuravam e contratavam jovens geneticamente adequados para fazer parte de seus exércitos, mas em vez de serem treinados em defesa, treinavam para os jogos olímpicos em tempo integral.

Jogando fora a ética e o espírito das Olimpíadas ganhavam medalhas de esportistas amadores.

Os Estados Unidos logo vieram atrás.

Faculdades privadas nos Estados Unidos começaram a admitir nas melhores escolas do país jovens com aptidão atlética, e não necessariamente com aptidão acadêmica.

Atletas americanos ganham bolsas de estudo, mas estudo não era o que se demandava deles. A frase mudou para "Corpore Sano mas mente de ostra".

Para estes atletas bolsistas eram criados cursos fáceis que exigiam pouco estudo, para que pudessem treinar para as Olimpíadas em tempo integral.

Outros esportes menos conhecidos, os esportistas precisam de "patrocinadores" senão não têm condições de treinar como precisam.

Esta "profissionalização" disfarçada vai de encontro ao espírito olímpico, porque esporte era um complemento à vida acadêmica e não um fim em si mesmo.

E a partir de 1970, estes esportistas profissionais passaram a ser admitidos nos jogos olímpicos oficialmente, algo que até então era proíbido.

Cederam aos países não éticos, que viam nos Jogos Olímpicos uma forma de se mostrar superiores aos demais.

Rafael Nadal é o campeão olímpico de 2008, única competição que ele disputa sem o objetivo lucro, o que é uma enorme hipocrisia da parte dele.

A final de tênis Federer x Smith foi uma reprise de Wimbledon, onde só tem profissionais. 

Felizmente, o Comitê Olímpico aprovou os Jogos Olímpicos da Juventude.

O primeiro foi em 2010, e são estes jogos que mantêm a chama olímpica viva, para jovens de 14 a 18 que ainda não caíram no profissionalismo egoísta do esporte como fim.

Precisamos dar mais atenção aos Jogos da Juventude e proibir aqueles esportistas que só se dedicam ao esporte e nada mais, pagos para aumentar o seu status profissional com dinheiro do contribuinte.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Versos Íntimos

Conforme prometido na minha última postagem, o poema Versos Íntimos, de Augusto dos Anjos.

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Versos Íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Queixas Noturnas

Augusto dos Anjos é, indiscutivelmente, meu poeta favorito. Cético em relação às possibilidades do amor ("Não sou capaz de amar mulher alguma, Nem há mulher talvez capaz de amar-me"), Augusto dos Anjos fez da obsessão com o próprio "eu" o centro do seu pensamento. Não raro, o amor se converte em ódio, as coisas despertam nojo e tudo é egoísmo e angústia em seu livro ("Ai! Um urubu pousou na minha sorte"). Dentre seus poemas, meu favorito é Versos Íntimos, mas vou poupá-lo para uma postagem futura. Hoje, o poema que mais me representa é Queixas Noturnas, que vocês podem acompanhar aí embaixo.

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Queixas Noturnas

Quem foi que viu a minha Dor chorando?!
Saio. Minh’alma sai agoniada.
Andam monstros sombrios pela estrada
E pela estrada, entre estes monstros, ando!

Não trago sobre a túnica fingida
As insígnias medonhas do infeliz
Como os falsos mendigos de Paris
Na atra rua de Santa Margarida.

O quadro de aflições que me consomem
O próprio Pedro Américo não pinta...
Para pintá-lo, era preciso a tinta
Feita de todos os tormentos do homem!

Como um ladrão sentado numa ponte
Espera alguém, armado de arcabuz,
Na ânsia incoercível de roubar a luz,
Estou à espera de que o Sol desponte!

Bati nas pedras dum tormento rude
E a minha mágoa de hoje é tão intensa
Que eu penso que a Alegria é uma doença
E a Tristeza é minha única saúde.

As minhas roupas, quero até rompê-las!
Quero, arrancado das prisões carnais,
Viver na luz dos astros imortais,
Abraçado com todas as estrelas!

A Noite vai crescendo apavorante
E dentro do meu peito, no combate,
A Eternidade esmagadora bate
Numa dilatação exorbitante!

E eu luto contra a universal grandeza
Na mais terrível desesperação
É a luta, é o prélio enorme, é a rebelião
Da criatura contra a natureza!

Para essas lutas uma vida é pouca
Inda mesmo que os músculos se esforcem;
Os pobres braços do mortal se torcem
E o sangue jorra, em coalhos, pela boca.

E muitas vezes a agonia é tanta
Que, rolando dos últimos degraus,
O Hércules treme e vai tombar no caos
De onde seu corpo nunca mais levanta!
É natural que esse Hércules se estorça,
E tombe para sempre nessas lutas,
Estrangulado pelas rodas brutas
Do mecanismo que tiver mais força.

Ah! Por todos os séculos vindouros
Há de travar-se essa batalha vã
Do dia de hoje contra o de amanhã,
Igual à luta dos cristãos e mouros!

Sobre histórias de amor o interrogar-me
É vão, é inútil, é improfícuo, em suma;
Não sou capaz de amar mulher alguma
Nem há mulher talvez capaz de amar-me.

O amor tem favos e tem caldos quentes
E ao mesmo tempo que faz bem, faz mal;
O coração do Poeta é um hospital
Onde morreram todos os doentes.

Hoje é amargo tudo quanto eu gosto;
A bênção matutina que recebo...
E é tudo: o pão que como, a água que bebo,
O velho tamarindo a que me encosto!

Vou enterrar agora a harpa boêmia
Na atra e assombrosa solidão feroz
Onde não cheguem o eco duma voz
E o grito desvairado da blasfêmia!

Que dentro de minh’alma americana
Não mais palpite o coração - esta arca,
Este relógio trágico que marca
Todos os atos da tragédia humana!

Seja esta minha queixa derradeira
Cantada sobre o túmulo de Orfeu;
Seja este, enfim, o último canto meu
Por esta grande noite brasileira!

Melancolia! Estende-me a tu’asa!
És a árvore em que devo reclinar-me...
Se algum dia o Prazer vier procurar-me
Dize a este monstro que eu fugi de casa!

domingo, 5 de agosto de 2012

Amor Divino

"Porque o amor entre homens e mulheres não dura? Porque ao invés de se ligarem reciprocamente à Fonte divina para se renovarem sem cessar, se agarram um ao outro e acabam se esgotando? Quando não há mais nada, eles são como recipientes vazios e rejeitam-se. Considerem, portanto, o seu parceiro como um ser precioso, único, e pensem que depende de vocês para torná-lo vivo, belo e rico, com condições de ligá-lo à Fonte, ao Pai Celeste, à Mãe Divina, a todas as hierarquias angélicas, ao sol, às estrelas…

O amor lhes dá todas as possibilidades. Mas se não estão esclarecidos, se ao invés de se ligarem ao Céu, vocês se agarram ao ser que amam e retiram toda a sua energia, com o passar do tempo, esse ser desmoronará, e vocês o amarão menos. Mas de quem é a culpa? Porque não se ligaram ao Céu? Agora estão inquietos, se questionam sobre ele. Porém, é muito simples: não souberam projetá-lo muito no alto para que pudessem beber e respirar… Até ele deve fazer a mesma coisa com vocês. Nesse ponto, não serão mais simples recipientes, serão uma fonte inesgotável um para o outro."

Omraam Mikhaël Aïvanhov