quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Equivalência da Forma


No século XXI as mídias democratizaram a informação. Uma informação se espalha como rastilho de pólvora e a facilidade de se correlacionar sabedorias diferentes, comparando duas páginas de internet acabou por simplificar o processo. Exige-se muito menos tempo do que no passado, quando pesquisas duravam uma infinidade de tempo.

O lado negativo disso, chama-se "autodidatismo". A pessoa acha-se capaz de apreender todo e qualquer conhecimento simplesmente porque fez uma pesquisa na internet ou leu alguns pares de livros. Por isso, vejo pessoas que ao invés de dedicar-se a aprender ocultismo ou qualquer religião de fato, preferem unicamente consultar uma ou outra fonte, acreditando piamente que podem revelar o que os sábios demoram tempos razoáveis para adquirir, até que pudessem transmitir aos seus alunos.

Na cabala, há um conceito que os sábios nos transmitem há milhares de anos, que hoje é chamado de equivalência da forma. Acredito que esse conceito se aplique a qualquer texto de características magísticas, como a Torá, a Bíblia, o Tao, o Talmud, o Zohar, entre outros. Tais textos foram escritos por pessoas que estavam sob efeito de forte Ruach Hakodesh (Inspiração Divina), o que nos leva simplesmente à conclusão que existem códigos em seus escritos. É verdade que todo código pode ser quebrado, mas trata-se de algo tão engenhoso, que os mistérios para a revelação e entendimento da sabedoria ocultos nestes livros, não são algo que estão fora e sim, dentro do "decodificador".

Proponho um exemplo: imagine que você ama uma mulher, e que ela não sabe nada disso. Você a admira pela cultura que ela tem, porque é inteligente, se comunica bem e aprecia música clássica. Sabe falar sobre várias coisas, em especial cinema, literatura e teatro. É muito correta com os assuntos do trabalho e em todas as ocasiões possíveis está folheando um livro. Você então se olha e constata que odeia ler, não é interessado em cinema, música, assim como acha teatro um saco. Está num trabalho por falta de opção melhor, o que o torna extremamente desleixado com os assuntos dele. Não estou dizendo que você precisa ser idêntico à pessoa para que se apaixonem, mas é preciso ter uma proximidade e questões internas afins, isto é o caminho para a equivalência de forma.

Então você aprende que se realmente quiser se aproximar da mulher de seus sonhos, você só tem uma opção. Buscar as qualidades que lhe faltam e que podiam causar interesse nela, e as qualidades que você já possui você precisa refiná-las, até que levem automaticamente à uma proximidade. Com certeza as suas chances sairão de 0% para algo mais elevado. Pode ser que você não conquiste essa mulher, mas certamente abrirá as portas para alguém semelhante na sua vida.

A verdade é que usei um exemplo cotidiano para explicar algo profundamente espiritual. Em Cabala para que possamos desvendar certos códigos, é necessário que nos aproximemos do alvo a ser desvendado. Se pegarmos um livro como o Zohar, para entendê-lo não se trata somente de uma questão de leitura, mas sim uma aproximação espiritual com o autor daquele livro. Isto significa que é preciso que eu tenha uma aproximação com as qualidades daquele autor, para que possa de fato vir a compreendê-lo.

Mas como posso compreender ou provocar um estado que vai me levar até a equivalência de forma com os autores desses livros, se eu nem ao menos conheço as características espirituais que eles cultivavam? Aí entra o papel do Rav (Mestre). Tendo ele percorrido tal caminho, ele será capaz de evocar situações, através das quais estes estados serão atingidos, até que você vai ler o livro ou partes dele, uma, duas, três vezes, sentindo que em cada lida, um novo véu está sendo revelado. Aí, a equivalência de forma vai acontecendo e quanto mais eu cultivo em mim as características daqueles sábios, mais eu os compreendo e mais o conteúdo transmitido por eles fica claro.

No final das contas, tudo no universo nos "empurra" para a equivalência de forma, já que o objetivo final do ser humano é a similaridade com Deus. Até que sejamos tão parecidos com ele em qualidades espirituais, até o ponto em que não haja eu ou Deus e sim, nós. Como na matemática cabalística: 1 + 1 = 1.