terça-feira, 2 de julho de 2013

Branca de Neve e os Sete Pecados Capitais

"Uma vez, no auge do inverno, quando flocos de neve caem como plumas das nuvens, uma rainha estava sentada à janela de seu palácio, costurando as camisas de seu marido. Nisto, levantou os olhos, espetou um dedo e caíram gotas de sangue na neve. E vendo o vermelho tão bonito sobre o branco, a rainha pensou:– Queria ter uma filha tão alva quanto a neve, tão vermelha como este sangue e tão negra como o ébano desta janela. Pouco tempo depois lhe nasceu uma filha que era branca como a neve, vermelha como o sangue e com uns cabelos negros como ébano. Por isso lhe puseram o nome de Branca de Neve. Mas, quando ela nasceu, a mãe morreu..."

Assim começa um dos mais famosos contos de fadas para crianças. Mas será mesmo que a Branca de Neve foi escrito originalmente como uma inocente conto para colocar pequerruchos insones na cama?

Acompanhe a versão original e o simbolismo profundo por trás de um dos contos favoritos de Walt Disney.

Logo de saída, a história de Branca de Neve nos indica que o ponto de vista a ser tomado para entendê-la mais profundamente é, sem dúvida, o iniciático. Chama atenção que o personagem central, Branca de Neve, sintetize em si as três cores que simbolizam, no Hermetismo, as três etapas da prática espiritual estabelecida por aquela doutrina: o negro, o branco e o vermelho, que correspondem respectivamente, ao Nigredo, Albedo e Rubedo dos alquimistas. Além disso, os sete anões, que trabalham numa mina buscando ouro, são uma clara alusão a outro aspecto do simbolismo alquímico, que nos informa ser a meta do alquimista a transformação dos metais impuros em ouro.

Não é também por acaso que a história se divide claramente em três partes. Na primeira, Branca de Neve vive no castelo comandado pela rainha má desde o nascimento (Malkuth) até quando foge do caçador pela floresta; na segunda, vive na casa dos sete anões até se engasgar com a maçã envenenada; na terceira, vive no castelo do príncipe unida com ele, "felizes para sempre". É evidente aqui a aplicação do simbolismo do número três aos graus do conhecimento e, por extensão, às três fases da realização na via espiritual.

A essência e o objetivo da via espiritual iniciática é a união com Deus. Essa união só é possível porque ser homem é sê-lo à imagem e semelhança de Deus. O mito de Adão (Hochma) e Eva (Binah) nos ensina que, depois da queda, este aspecto essencial do humano tornou-se ineficiente. Por isso, toda e qualquer tentativa de reintegração da forma humana no seu Arquétipo infinito e divino (a tal da volta ao Paraíso), só é possível se antes for regenerada à pureza do estado original humano. Por conta disso, chegamos à máxima alquímica da "transmutação do chumbo em ouro", que nada mais é do que a reintegração da natureza humana na sua nobreza original.

Comparando a história da Branca de Neve com a mitologia bíblica, de modo análogo ao relato do Gênesis, o conto diz que, no princípio, viviam em harmonia complementar um par de opostos, o Rei e a Rainha-Mãe boa (novamente: Adão e Eva primordiais, ou Hochma e Binah, além do Abismo).

Com a morte da Rainha-Mãe e após o nascimento de Branca de Neve instaura-se um desequilíbrio, uma espécie de afastamento da unidade, que é representado pela chegada da rainha má (o Demiurgo). Assim, depois da morte da mãe, Branca de Neve perde sua dignidade de princesa no castelo do pai e se torna uma serva da madrasta má. Branca de Neve, apesar de ter a marca das três cores, que a qualifica como um ser especial, cai numa função subalterna dentro do mundo profano, marcado pela dualidade, pela dispersão, pelas paixões e dominado pela rainha má (que simboliza ao mesmo tempo as paixões vis e a Igreja dogmática). O conto nos mostra que é necessário reunir em si o disperso, reintegrar-se em retiro além da floresta e nas montanhas, para depois se unir ao Espírito, que aqui é sem dúvida figurado pelo Príncipe (Tiferet, ou o espírito Crístico).

A rainha madrasta descobre que Branca de Neve é a mais bela quando esta última faz sete anos. A rainha má é obcecada com a comparação quantitativa do aspecto estético (beleza física) e, portanto, apenas sensorial da realidade (Malkuth, a Matrix... vocês entenderam...). Ela é incapaz de perceber qualquer beleza interior. A unidade do belo, do bem e da verdade que todas as tradições religiosas e filosóficas sérias proclamam não existe na rainha má, por causa de uma concentração exagerada da inteligência dela no aspecto mais externo da realidade material (a ciência).

No íntimo do ser humano, o bem é bonito e o belo é verdadeiro. Significativamente, e por compensação, a rainha má manda um caçador matar Branca de Neve e trazer-lhe o coração, para que ela o coma. O coração, que no simbolismo astrológico e cabalístico é representado pelo Sol, e no alquímico pelo ouro, é considerado, nas mais diversas tradições, a morada do espírito, o centro (anatômico e simbólico) do ser onde habita o divino. No entanto, o coração que a rainha come (ou que ela pode comer) é o de um animal, que o caçador compadecido sacrifica no lugar de Branca de Neve. Consciente, daí por diante da enorme ameaça de destruição existente no mundo da rainha, e insatisfeita com ele, a alma qualificada (Yesod) foge correndo pela floresta. Sua vida acaba num mundo e se inicia em outro. Mas, essa iniciação não acontece antes que ela passe por uma provação que se revela, no fundo, uma purificação.

A floresta e as provas antes da iniciação

"A pobre Branca de Neve ficou sozinha, e transida de dor se pôs a caminhar, no escuro da floresta, por entre as árvores sem saber que rumo tomar. De repente começou a correr assustada com o barulho dos trovões, com o clarão dos relâmpagos e com a chuva que começava a cair. Correu saltando pedras e atravessando sarças; e os animais selvagens pulavam quando ela passava, mas não lhe faziam mal. Ela correu até seus pés se recusarem a continuar, e como já era noite e viu uma choupana ali perto, entrou nela para descansar. Na choupana era tudo muito pequeno, porém nada podia ser mais limpo ou mais gracioso. No centro, via-se uma mesa coberta com uma toalha branca, e nela estavam sete pratinhos, cada um com sua colher, sua faca e seu garfo; havia também sete copinhos do tamanho de dedais. De encontro à parede se viam sete pequenos leitos, numa só fileira cobertos, cada um deles, com lençóis brancos como a neve."

O texto parece sugerir que as provações iniciáticas são ritos preparatórios da iniciação propriamente dita. Elas representam uma preparação necessária, de tal forma que a iniciação mesma é como se fosse sua conclusão ou seu fim imediato. É bom lembrar que elas tomam a forma de viagens simbólicas em certas tradições (maçonaria, rosacruz, druidismo, wicca) e podem mesmo se apresentar como uma busca ou procura, que conduz o indivíduo das trevas do mundo profano para a luz da iniciação.

No fundo, as provações são essencialmente ritos de purificação; e essa é a explicação verdadeira para essa palavra num sentido claramente alquímico. A corrida de Branca de Neve pela floresta representa de modo muito preciso exatamente isso: uma viagem do mundo profano – figurado pelo castelo da rainha má, que é um mundo de maldade e mentira, o reflexo da mentalidade dela mesma – até o local claro, limpo e protegido, nas montanhas, onde se localiza a casa dos sete anões. É uma viagem do mundo exterior para um outro interior, onde ela vai encontrar e aprender a lidar com as sete faculdades de conhecimento corporal que estão esquecidas no mais íntimo dela mesma (os tais sete pecados capitais).

A chuva que aparece na nossa história mostra que o essencial nos ritos de purificação é que eles operam pelos "elementos", entendidos no sentido cosmológico do termo, pois que elemento implica em ser simples; e dizer simples é o mesmo que dizer incorruptível. A água é um dos elementos mais usados nos ritos de purificação de quase todas as tradições (ver batismo egípcio, pela qual até mesmo Yeshua passou, e o batismo copiado em todas as tradições católicas/cristãs/essênias), talvez porque ela simbolize a substância universal. Notem a presença da limpeza e da cor branca na casa dos anões, indicadoras de que, depois da corrida pela floresta, a purificação se completou.

A casa dos anões é o Plano Mental, na qual todas as batalhas pela evolução do ser serão travadas até a conclusão do conto.

"Depois, estava tão cansada que se deitou numa das camas, mas não se sentiu à vontade. Experimentou outra e era muito comprida; a quarta era muito curta; a quinta dura demais; porém, a sétima era exatamente a que lhe convinha, e metendo-se nela se dispôs a dormir, não sem antes ter-se encomendado a Deus. Quando era noite regressaram os donos da choupana. Eram os sete anões que sondavam e perfuravam as montanhas em busca de ouro. A primeira coisa que fizeram foi acender sete pequenos lampiões, e imediatamente se deram conta – depois de iluminada toda a habitação – de que alguém havia entrado ali, já que não estava tudo na mesma ordem em que haviam deixado. (...) observando seus leitos gritaram: – Alguém deitou nas nossas camas! Mas, o sétimo anão correu à dele, e vendo Branca de Neve dormindo nela, chamou os companheiros que se puseram a gritar de assombro e levantaram seus sete lampiões iluminando a menina."

Depreende-se desse trecho da história que, desde o ponto de vista das iniciações, a purificação tem como fim conduzir o ser a um estado de simplicidade indiferenciada comparável com o da matéria prima ou pedra bruta, para usar uma expressão da alquimia, afim de que ele se torne apto a receber o Fiat Lux iniciático; é preciso que a influência espiritual, cuja transmissão vai dar a ele essa iluminação primeira, não encontre nenhum obstáculo devido a pré-formações desarmônicas provenientes do mundo profano (ou, em palavras mais claras, é necessário passar pelas provações dos sete planetas, por isso Branca de Neve deita-se em todas as camas). Relaxada e entregue, Branca de Neve não oferece nenhuma resistência à luz dos sete lampiões dos anões.

Os anões

Abandonar o mundo escuro e encontrar a luz tem suas conseqüências. Existem algumas indicações, sobre quais são essas conseqüências da "saída da floresta escura". Nos primeiros versos do Inferno, na Divina Comédia de Dante Alighieri (outro grande iniciado), ele mesmo informa que a floresta representa o estado de vício e ignorância do homem. Estar perdido na floresta é o mesmo que estar perdido no labirinto da multiplicidade da manifestação ("Labirinto do Fauno", alguém?).

Ora, a saída da floresta escura, ou, o que dá no mesmo, a morte ao mundo profano, implica logicamente numa mudança de mentalidade que surge como a primeira parte da fase inicial de mudança no direcionamento geral do ser, que é necessária para alcançar um grau mais elevado de clareza e iluminação. É evidente que a primeira providência prática, para alcançar essa mudança mental, está na revisão dos pontos de vista e das convicções pessoais, dos hábitos mentais, dos coágulos das emoções negativas, etc, etc, etc, ou seja, lapidar a pedra bruta até chegar ao elixir da longa vida.

Por isso mesmo, Branca de Neve deve se submeter a certas condições para poder ficar na casinha dos anões. As condições para ela ficar na casa eram: primeiro, seguir os conselhos deles para não abrir a porta para ninguém, porque a rainha má com o poder de se disfarçar e enganar, poderia atacá-la e matá-la; e segundo, manter a casinha sempre limpa e arrumada. Essa disciplina (em Branca de Neve) e essa limpeza interior (na casa dos anões, que representa nossa mente) são um espécie de treino para dominar todas as tendências obscuras e irracionais da alma, ambas necessárias para a realização do ouro interno, na sua pureza e luminosidade imutáveis. Isto corresponde ao que a alquimia chama de "extração dos metais nobres a partir dos metais impuros por meio da intervenção dos elementos solventes e purificadores, como o mercúrio e o antimônio, em conjunção com o fogo, e que se efetua inevitavelmente contra a resistência e a revolta das forças caóticas e tenebrosas da natureza".

Ora, os anões são os conhecedores da técnica que permite a realização desse trabalho, porque eles sabem extrair ouro da montanha. Na alma do homem são como que lampejos primitivos de consciência, de iluminação e de revelação. Anões são os gênios da terra, os famosos gnomos.

Como o texto nos diz que são sete, eles correspondem exatamente aos sete metais/planetas que os alquimistas designavam pelos mesmos símbolos usados na astrologia para os sete planetas. Sol - ouro, Lua - prata, Mercúrio - mercúrio, Vênus - cobre, Marte - ferro, Júpiter - estanho e Saturno - chumbo. Essas correspondências colocam em evidência a relação que existe entre a alquimia e a astrologia e que se fundamenta no princípio que a Tábua de Esmeralda exprime assim: "O que está embaixo é semelhante ao que está em cima". Por isso, Saturno, que é o planeta mais alto para Astrologia pois corresponde ao sétimo céu, eqüivale, na alquimia, ao chumbo, que está no ponto mais baixo da hierarquia. A hierarquia dos planetas é ativa, enquanto a dos metais é passiva.

No próprio filme da Disney, alguns dos anões representam estas características dos metais e dos planetas, como por exemplo, Mestre (Doc) – O mais velho dos anões, representa o Sol, o líder. Feliz (Happy) – representa a bonança e a fartura de Júpiter, gordinho e feliz. Juntos são os dois anões mais gordinhos na concepção de Disney. Em seguida temos Zangado (Grumpy) representando a Ira de Marte, Dengoso (Bashful) representando a beleza de Vênus, Soneca (Sleepy) representando a Lua e seu pecado capital Preguiça, Atchim (Sneezy) representando as atormentações de Saturno e Dunga (Dopey) – Mercúrio, o mais rápido dos planetas, e também o menorzinho deles.

Mas, voltemos à parte do texto que descreve na linguagem simbólica e, portanto, mais rica do conto original:

"Quer ser encarregada de nossa casa? Será nossa cozinheira, fará as camas, lavará a roupa, coserá, fará meias para nós e conservará tudo limpinho e arrumado. Se trabalhar bem ficaremos com você, não terá falta de nada e será nossa Rainha. Branca de Neve respondeu: – Aceito, de todo meu coração! E foi assim que ela ficou com os anõezinhos e tomou conta da casa deles. De manhã os anões saiam pelas montanhas para procurar ouro, e quando regressavam, à noite, encontravam a comida preparada. Durante o dia a menina ficava sozinha, e por isto os anões nunca deixavam de lhe dizer quando saiam: – Tome cuidado com sua madrasta, que mais cedo ou tarde acabará sabendo que você está aqui, e não deixe entrar ninguém."

O tempo que Branca de Neve fica na casa dos anões é um tempo de treinamento, disciplina interior e aprendizado. É nesse período, durante o qual acontecem seus três perigosos encontros com a madrasta disfarçada, que ela aprende a usar a sabedoria representada pelos anões (que no fundo está nela mesma) para lidar com os elementos ainda não ordenados que tem dentro de si.

As práticas ou rituais – implícitas no processo iniciático – preparam para o contato com o poder unificador do Espírito (Tiferet, a iluminação), cuja presença exige que a substância psíquica tenha se tornado um todo unificado. Os elementos mais ou menos dispersos de nossa personalidade mundana são, desse modo, compelidos a juntar-se. E, alguns deles chegam enraivecidos, vindos de lugares ocultos, remotos ou obscuros com os poderes inferiores ainda agarrados a eles. É mais correto dizer, neste caso, que é o inferno que ascende do que afirmar que é o praticante que desce nele.

Quem sai do seu castelo enraivecida pela inveja e vai procurar Branca de Neve é a madrasta, e não o contrário! Essa guerra das forças inferiores conduz a uma verdadeira batalha que tem a alma como campo de luta (a tal simbologia da luta entre o "céu" e o "inferno" pelas nossas almas.

As três tentativas da rainha má para matar Branca de Neve mostram, que no começo do caminho os elementos psíquicos pervertidos estão de certo modo adormecidos e afastados do centro da consciência, do mesmo modo que a madrasta está no castelo, longe da casa dos anões. Eles devem ser primeiramente acordados, pois não podem ser redimidos e transformados dentro do seu sono. E é no momento em que despertam, num estado de ódio enfurecido contra a nova ordem, que existe sempre o risco de que eles se apossem de toda a alma. O que não acontece no conto porque os anões, que são as partes de conhecimento da alma, não são atingidos pela rainha e por isso salvam a princesa nas duas ocasiões em que a madrasta disfarçada tenta matá-la. A primeira através de sufocação com um espartilho apertado e a segunda com um pente envenenado na cabeça (estas partes acabaram ficando de fora da versão de desenho animado, mas constam da versão original do conto).

Esses episódios são descrições simbólicas da transformação do metal vil em metal nobre. As faculdades corporais de conhecimento, representadas pelos anões, começam a atuar de modo consciente e é através de seu uso que Branca de Neve se salva por duas vezes.

A morte de Branca de Neve

A palavra morte deve ser compreendida neste caso no seu sentido mais geral, segundo o qual pode-se dizer que toda a mudança de estado, qualquer que seja, é ao mesmo tempo uma morte em relação a um estado antecedente e um nascimento em relação ao estado seguinte (como no mito da Fênix).

A iniciação é geralmente descrita como um segundo nascimento que implica, logicamente, na morte para o mundo profano. É bom lembrar que toda mudança de estado deve se passar nas trevas, no escuro, o que explica o simbolismo da cor negra quando relacionada a esse assunto. O candidato à iniciação deve passar pela obscuridade completa antes de alcançar a verdadeira luz. É nesta fase de obscuridade que se dá a chamada "descida aos infernos", que é uma espécie de recapitulação dos estados antecedentes, através da qual as possibilidades relacionadas ao estado profano serão definitivamente esgotadas, afim de que o ser possa, daí por diante, desenvolver livremente as possibilidades de ordem superior que ele carrega consigo e cuja realização pertence propriamente ao domínio iniciático.

No nosso conto, Branca da Neve "morre" ou muda de estado, depois que come uma maçã. Come? Não. Ela se engasga. Os anões conseguem ressuscitar Branca de Neve por duas vezes, mas não são competentes para fazê-lo quando se trata da maçã porque, como explicaremos em seguida, a maçã representa, não uma provação de ordem corporal, e sim uma do domínio da inteligência, pois que a maçã é o fruto símbolo do conhecimento.

A maçã

Desde a "maçã" de Adão e Eva até o pomo da discórdia, passando pelo pomo de ouro do jardim das Hespérides, encontramos, em todas as circunstâncias, a maçã como um meio de conhecimento. Ela está carregada de duplicidade pois, ora é o fruto da Árvore da Vida que está no meio do Paraíso e ora é o fruto da Árvore da Ciência do bem e do mal que, paradoxalmente, lá também se encontra. Pode ser, portanto, conhecimento unificador que confere a imortalidade ou conhecimento desagregador que provoca a queda.

Se examinamos seu simbolismo, também, desde o ponto de vista de sua estrutura física, podemos constatar novamente essa duplicidade característica dos meios de conhecimento. Assim, ela é símbolo do conhecimento, pois um corte feito perpendicularmente ao eixo revela que, no seu íntimo, está um pentagrama, símbolo tradicional do saber, desenhado pela própria disposição das sementes. Por outro lado, o pentagrama é também um símbolo do homem-espírito e desde esse ponto de vista ela indica, ao mesmo tempo, a involução do espírito dentro da matéria.

"A Rainha disfarçada bateu à porta, e Branca de Neve enfiou a cabeça e disse:

- Não posso deixar ninguém entrar. Os sete anões me proibiram isso.
- Pior para mim, disse a velha, pois terei de voltar para casa com minhas maçãs. Mas, olhe, eu lhe dou esta de presente.
- Não tenho coragem de comer, respondeu Branca de Neve.
- Será que está com medo? gritou a velha.
- Olhe vou parti-la em duas metades; você come a parte de fora e eu comerei a de dentro. ( A maçã estava preparada com tanta habilidade que só as partes vermelhas estavam envenenadas)."

Os anões não enterraram Branca de Neve, mesmo depois que a encontraram envenenada pela maçã e não conseguiram ressuscitá-la, porque depois de passar por essa fase, Albedo, não se volta mais ao Nigredo, pois o processo segue em frente para o Rubedo, que é a união com o Espírito representado pelo príncipe. As cores alquímicas e seu simbolismo (indicadas também pelas aves que lamentam Branca de Neve) são claramente mostradas no texto abaixo:

"Quando os anõezinhos regressaram à noite encontraram Branca de Neve estendida no chão e aparentemente morta. Levantaram-na e procuraram nela alguma coisa venenosa, desapertaram-lhe o vestido e até lhe despentearam os cabelos e a lavaram com água e vinho. Mas, de nada serviu. A querida menina parecia realmente morta. Estenderam-na então num ataúde e os sete anões colocaram-se à sua volta e choraram sem cessar durante três dias e três noites. Depois quiseram enterrá-la, mas vendo-a tão fresca e com as faces tão coradas disseram uns para os outros:

- Não podemos enterrá-la na terra negra.

E encomendaram uma caixa de cristal transparente. Através dela se via o corpo de Branca de Neve por todos os lados e os anões escreveram seu nome em letras douradas no vidro, dizendo que ela era filha de um rei. Depois colocaram a caixa de cristal no alto de uma rocha e sempre ficava ali um deles vigiando. Até os animais selvagens lamentaram a perda de Branca de Neve: primeiro chegou um bufo, depois um corvo e por último uma pomba. Durante muito tempo Branca de Neve permaneceu placidamente estendida em seu féretro. Nada mudou em seu rosto e parecia que estava adormecida, pois continuava negra como ébano, branca como a neve, vermelha como o sangue."

Como dissemos acima, a maçã é um símbolo do mundo. Mas, o que a rainha má oferece a Branca de Neve é APENAS o aspecto mais externo, mais atraente e venenoso deste Mundo com o qual ela tem que entrar em contato para dominá-lo (novamente, temos um paralelo com Matrix). A história nos conta que, apesar de aparentemente morta, Branca de Neve mantinha o mesmo frescor de pele e a beleza luminosa do tempo em que estava viva. Isso nos indica que a alma, com o corpo transfigurado e dissolvido nela, está pronta para que o Espírito aja sobre ela e a torne indestrutível.

"Passaram-se meses, e aconteceu que o filho do rei viajava pelo bosque, e entrou na casa dos anões para passar a noite. Não tardou a dar-se conta do ataúde de cristal no alto da rocha, contemplou nele a bela jovem que repousava, e leu a inscrição dourada. Depois que leu, disse, dirigindo-se aos anões:

- Dêem-me esta caixa, e pagarei o quanto quiserem por ela.

Mas os anões responderam:

- Não venderemos nem por todo o ouro do mundo.
- Então quero-a de presente, disse o príncipe, porque não poderei viver sem Branca de Neve.

Os anões vendo a ansiedade com que ele fazia o pedido, ficaram compadecidos, e acabaram entregando a caixa, e o príncipe ordenou a um dos seus servos que a carregasse nos ombros. Mas, aconteceu que este tropeçou numa raiz, e com o baque, saltou no chão o pedaço da maçã envenenada que estava na boca de Branca de Neve. Imediatamente esta abriu os olhos e levantando a tampa da caixa de cristal, voltou a si, e perguntou:

- Onde estou eu?
- Está salva e a o meu lado! respondeu o príncipe cheio de alegria. E lhe contou o que havia sucedido, terminando por lhe suplicar que o acompanhasse ao castelo do rei seu pai, pois ele a queria para esposa. Branca de Neve aceitou, e quando chegaram ao palácio celebraram-se as bodas o mais rapidamente possível, com o esplendor e magnificência adequados a tão feliz sucesso."

O pedaço da maçã, que Branca de Neve não engoliu e, portanto, não se tornou parte dela é um último vestígio do mundo que nela se mantinha, de certo modo, sobreposto. Ele é retirado com a presença do príncipe. O Espírito, então, dá a forma final à alma.

Existe uma versão do conto, bem antiga, na qual o Príncipe mantém relações sexuais com a Branca de Neve e o movimento da transa é que faz o pedaço de maçã escapar da garganta da princesa. Esta versão é mais interessante do ponto de vista do Hieros Gamos, mas certamente daria alguns problemas com a censura se estivesse no desenho da Disney.

E a rainha má?

"A rainha má a princípio resolveu não ir às bodas, mas depois não pode resistir ao desejo de ver a jovem rainha, e, quando entrou e reconheceu Branca de Neve, de tanta raiva, e de tanto assombro, ficou como pregada no chão. Levaram-lhe então, seguros por uma tenazes, uns sapatos de ferro, aquecidos em brasa, e com eles a rainha teve que bailar até cair morta."

O mundo manifestado, feito de agitação e desejo, esgota-se em seu próprio movimento, quando posto em frente da unidade do Espírito. O casamento, símbolo da unidade e do encontro dos opostos toma aqui uma acepção específica: é a união da alma com Espírito. União, impossível de acabar porque é feita de uma felicidade absoluta que está além e acima da Matrix. Por isso todos os contos iniciáticos acabam com a expressão "e viveram felizes para sempre".

É bom lembrar que o sapato tem entre suas acepções simbólicas duas principais: é, primeiramente, representação do viajante e, portanto, do movimento. Simboliza não só a viagem para o outro mundo, mas a caminhada em todas as direções, neste mundo mesmo. Em segundo lugar, é uma prova da identidade da pessoa, como em Cinderela, que é reconhecida pelo príncipe porque seu pé cabe num sapatinho de cristal.

Na história de Branca de Neve, o pé da rainha má cabe num sapato de ferro em brasa. Enquanto a delicadeza do cristal é a marca da identidade de Cinderela, a rainha má é reconhecida pelo peso, dureza e densidade do ferro.

O símbolo deve pertencer sempre de uma ordem inferior à daquilo que é simbolizado; assim as realidades do domínio corporal, que são as de ordem mais baixa e mais estreitamente limitadas, não são simbolizadas por coisa alguma porque tal símbolo é completamente desnecessário, já que elas podem ser apreendidas diretamente por qualquer um. Por outro lado, qualquer fenômeno ou acontecimento, por mais insignificante que seja, devido à correspondência que existe entre todas as ordens de realidade, pode ser tomado como símbolo de algo de ordem superior, da qual ele é de certo modo uma expressão sensível, pois que deriva dela do mesmo modo como uma conseqüência deriva de seu princípio.


terça-feira, 9 de abril de 2013

Quatro Truques Sujos


1. A Realidade é o que pensamos d'Ela

O mundo é como o percebemos ou existe uma verdade além disso que devemos buscar? Conceitos universais que transcendem nossa percepção e criação?

Antes de começar a tentar responder isso saiba que qualquer discussão sobre um universo subjetivo ou objetivo perde o sentido a partir do momento em que tomamos consciência de que, seja como for, estamos presos dentro de nossa própria mente. Ou limitados por nosso próprio sistema nervoso central, para usar uma metáfora moderna. Protágoras de Abdera já afirmava que o homem é a medida de todas as coisas, de tudo o que existe já que todas as coisas são relativas às disposições do homem, ou seja o mundo, e a realidade por extensão  é o que o homem constrói e destrói, assim não existem verdades absolutas, toda verdade é relativa a uma determinada pessoa, grupo de pessoas ou sociedade.

Esta é a tábua da esmeralda e a primeira lei do Caibalion: A realidade é mental. Toda forma de magia, do Pai Nosso, passando pela criança que coloca o dente de leite recém caído debaixo do travesseiro e chegando aos Sigilos Caóticos são apenas formas de se convencer que uma mudança é possível. E que essa mudança pode ser operada por um ato resultante de nossa vontade, de nossa mente. E não apenas isso, mas quanto mais forte for a mente, ou vontade, mais forte será o seu controle sobre a sua realidade. A vida é um sonho. Isso é um fato.

2. Duas ou mais mentes podem unir forças e definir a realidade de uma outra

Se o número de pessoas que acreditam em algo for grande o suficiente, a força dessas mentes combinadas pode alterar a realidade de todas as outras mentes com quem convivem, independente das crenças individuais. Quando você acostuma as pessoas a sua volta com uma visão sua é melhor mudar o circulo de amigos se quiser construir um novo eu. Lembre-se que você é a  soma de crenças alheias, daquilo que você demonstra.

Hitler afirmou que os mentirosos também são grandes magos, e ele não estava errado. Se a Alemanha houvesse ganhado a guerra os documentários hoje não teriam títulos como "O Maior Monstro de Nossa Era" ou "O Horror do Nazismo". Se não existe uma verdade absoluta então toda afirmação que vá além do indivíduo é uma mentira.

E mais importante do que isso é que cada mente que passa a adotar a realidade alienígena como sua própria, fortalece esta realidade. Quando acreditamos que um pensamento é certo e o adotamos como nosso pensamento o fortalecemos.

Este é o poder por trás de todas as religiões e ideologias. Você consegue imaginar que seria concebível manter o status da vida que leva agora se decidisse abrir mão do dinheiro? Você acredita que indivíduos que lutam contra a sociedade devem ser punidos? Ou que mesmo que você não seja uma pessoa exatamente "do bem" existem pessoas muito piores à solta por ai?

É por causa disso que praticar magia COM um grupo é mais fácil enquanto se praticar magia PARA um grupo se torna um trabalho excruciante. Quando você esta COM um grupo, a vontade dos outros se somam e é como nadar a favor da correnteza. Quando você está fazendo PARA uma platéia suas dúvidas e crenças são obstáculos a mais que precisam ser vencidos. Ninguém vai para um show de mágica para ver um coelho sair da cartola, as pessoas vão para lá tentar pegar o mago com a mão na massa. Literalmente, mesmo que não se aperceba disso, a audiência está sempre contra você. Este é o segredo do Hermitão, pois todo exercício de fortalecimento de magia envolve um certo grau de isolamento.

Primeiro se fortaleça, aprenda a dominar a sua realidade e a rechaçar tudo aquilo que vá contra ela. Calar é importante pois evita que as pessoas lutem contra uma realidade que quer se manifestar por meio de ceticismo ou crenças contrárias. Se você quer assustar alguém diga que mandou uma maldição, mas se quiser mandar uma maldição não diga a ninguém. Por outro lado toda magia de cura deve ser anunciada, já que nesse caso as pessoas esperam ser curadas, e o desejo delas fortalece o seu. É por isso também que todo desejo de cura deve ser sincero.

3. Uma mente mais forte pode definir a realidade de uma mente mais fraca

O truque anterior pode dar a entender que a Realidade é Democrática, ou seja, é definida pelas crenças e pensamentos da maioria. Essa descrição não é totalmente exata. A meu ver, a realidade é como uma República. Isso porque as pessoas não tem votos de mesmo peso. O que ocorre é que em geral as pessoas dão o seu voto de confiança para que uma outra pessoa arque com a responsabilidade de lhes dizer o que é real e o que não é.

É da natureza humana seguir líderes, ou aqueles que julgamos serem bons líderes. Desde que começamos a nos reunir em grupos começaram a surgir disputas para ver quem assumiria o poder. Em um grupo aqueles que lideram estão sempre em desvantagem numérica sobre os que são liderados, e mesmo assim o grupo maior sempre segue, mesmo quando se sente prejudicado. Os líderes não surgem porque de quando em quando um indivíduo apresenta uma visão que agrada a todos, ele surge porque todos querem ser liderados.

Este foi sempre o papel do xamã, dos sacerdotes e atualmente dos cientistas e meios de comunicação. Além disso uma mente dominante pode impor sua própria vontade sobre a vontade de uma mente fraca e apontar aquilo que ela quer quer que seja real. Afinal, se o líder diz, por que não deveríamos acreditar nele? Pense no processo de impeachment que nosso ex-presidente Collor sofreu. Você de fato acredita que de um dia pro outro todo mundo que o elegeu decidiu tirá-lo do poder? Ou isso foi a vontade de uma minoria influente que com a ajuda da mídia contaminou a opinião pública? No atentado de 11 de Setembro aos Estados Unidos, o mundo todo tinha medo de terroristas ou esse medo foi imposto com a ajuda da mídia? O terrorismo existe desde que formas de governo foram criadas e essas estão presentes desde que dois indivíduos ou mais decidiram viver juntos.

Em nosso dia a dia isso se mostra no poder da crítica e do elogio. Toda mentira pode ser uma profecia que se auto-realiza se for impulsionada por uma vontade forte o bastante. A maneira como isso é feito é uma forma de arte, talvez a mais desconhecida e poderosa de todas as artes.  Quando você fala algo para alguém isso é passado para o consciente, onde é julgado, e aceito ou rejeitado. O que é aceito é passado direto para o inconsciente, e é, levado de volta para a realidade. É o que chamamos de concordância  Quanto mais cabeças unidas na sua intenção, mais rápido  a realidade física vem a se manifestar. Com o seu inconsciente, você pode alterar parte da realidade. Mas se juntar com o inconsciente de outros, você pode alterar toda a realidade. A realidade é, no final das contas, uma mentira bem contada.

Mas não adiante apenas sair por aí contando vantagem para se tornar uma pessoa bem sucedida. O primeiro principio da realidade é: prove aos outros aquilo que fala. Observe qualquer brecha e mostre aos olhos alheios, aquilo que tua boca quer passar. Um mentiroso estratégico é aquele que souber atestar a verdade de suas próprias mentiras. É exatamente essa sua meta. Não adianta espalhar, por exemplo, que alguém está afim de você. Isso irá ter efeito reverso, logo esse alguém volta e te derruba. A primeira coisa que você precisa criar, nesses casos é, um efeito físico  que faça algo nascer. Existem coisas que é melhor não falar pois isso pode acordar o Ego, que é um grande cão de guarda da realidade de cada um.

Deixe o ego alheio dormir achando que está tudo em ordem. Lembre-se que existe a linguagem não verbal. Criar pensamentos numa pessoa e fazê-la acreditar naquilo que você quer é o ideal nesses casos. Você pode dar a entender por suas atitudes, aquilo que se você expusesse em palavras poderia voltar-se contra você. A realidade da linguagem no fim das contas vai além das palavras. Lembre-se: o objetivo é convencer uma pessoa de algo. Nada convence mais que a visão. Nada. Mostre aos outros aquilo que você quer. Mostre delicadamente.

Muita gente cai na burrice de tentar mostrar ou forçar uma visão que não existe. Ou que está claramente, sendo deturpada. Seja natural. O jogo é você começar a observar o como uma coisa é feita e jogar da mesma forma com ela. O como uma pessoa pensa, e convencê-la pelo próprio raciocínio. Mostre a outrem a visão daquilo que quer, pela beiradas. Não adianta de um dia para o outro, quando você quer se livrar de um amor qualquer, dizer após um termino que está tudo bem. Todos sabem que não. Porém, se você souber dizer aos outros que já há um tempo não andava mais sentindo nada pelo seu parceiro, a coisa flui de modo diferente. É mais fácil do inconsciente aceitar, e é mais fácil da cabeça dos outros mudarem você, pela concordância deles. Lembre-se que o máximo da realidade não é o interior, mas sim o exterior. O que você exterioriza é o que vão entender. Essa é a chave da questão.

4. A mente pode ser fortalecida por atos de Vontade

Sua mente não é a massa cinzenta que existe entre suas orelhas. Nem aquilo que dói quando você tem que ficar pensando em um assunto difícil. Sua mente é aquilo formado por seus pensamentos e por sua vontade. Quando você começa a fazer uma dieta é seu cérebro que diz "estou com fome, preciso comer agora" são seus pensamentos que pedem que esse alimento seja uma pizza quentinha, mas é sua Vontade que deve controlar esse impulso caso você de fato acredite que agora a dieta é o melhor a fazer.

Saiba então que uma mente pode ser fortalecida por atos de Vontade. Assim como os pesos fortalecem os músculos e os problemas melhoram o cérebro, a Vontade também pode ser exercitada. Esta é a única razão das "provas de fogo" do xamanismo, das "iniciações" dos sistemas tradicionais, do diploma que você consegue em uma faculdade para exercer uma profissão. Esses rituais mostram que sua vontade foi forte em determinada direção - vencer o desconforto físico, fazer parte da ordem ou se aplicar a aprender por tantos anos as bases de uma profissão. Mostram como sua Vontade é forte para evitar que você saia da linha que traçou, que erre o alvo que decidiu ser o seu objetivo - curiosamente a palavra pecado se deriva justamente do latim pecare, literalmente errar o alvo.

A sua própria mente, seus sentimentos, suas emoções e reações, são todas, absolutamente todas, alteráveis  Você pode deturpá-las a seu bel prazer, e tornar a ficção em realidade através de uma crença externa nisso. Tudo depende do rotulo que você dá àquilo que sente; é uma forma de auto engano que se inicia por uma mentira que depois se torna uma verdade absoluta. Mas na prática esse exercício não precisa levar anos. Mesmo o menor ato, onde a vontade de alguém sobrepuja a de outros tem o poder de desafiar o status quo. Cada pequeno passo é uma vitória. Parar de fumar, artes marciais, trabalho voluntário ou qualquer coisa que lhe faça acordar cedo são bons exemplos. Essa é a grande diferença entre um seguidor e um iluminado. O seguidor completa o jejum apesar dos seus desejos. O iluminado completa por causa de sua Vontade.

terça-feira, 26 de março de 2013

Eostre

Eostre, Ēostre, Ostara ou Ostera é a deusa da fertilidade e do renascimento na mitologia anglo-saxã, na mitologia nórdica e mitologia germânica. Na primavera, lebres e ovos coloridos eram os símbolos da fertilidade e renovação à ela associados.

De seus cultos pagãos originou-se a Páscoa (Easter, em inglês e Ostern em alemão), que foi absorvida e misturada pelas comemorações judaico-cristãs. Os antigos povos nórdicos comemoravam o festival de Eostre no dia 30 de Março. Eostre ou Ostera (no alemão mais antigo) significa "a Deusa da Aurora". É uma deusa anglo-saxã, teutônica, da primavera, da ressurreição e do renascimento. Ela deu nome ao Sabbat Pagão, que celebra o renascimento, chamado de Ostara.

Posteriormente, a igreja católica acabou por substituir as festividades pagãs de Ostara pela Páscoa, não sem absorver muitos de seus costumes, inclusive os ovos e o coelhinho da Páscoa. Podemos perceber isso pelo próprio nome da Páscoa em inglês, Easter, muito semelhante a Eostre.

Relações com a Mitologia

O nome Eostre ou Ostara, como também a Deusa é chamada, tem origem anglo-saxã provinda do advérbio ostar que expressa algo como "Sol nascente" ou "Sol que se eleva". Muitos lugares na Alemanha foram consagrados a ela, como Austerkopp (um rio em Waldeck), Osterstube (uma caverna) e Astenburg.

Eostre estava relacionada à aurora e posteriormente associada à luz crescente da Primavera, momento em que trazia alegria e bênçãos a Terra.

Por ser uma Deusa um tanto obscura, muito do que se sabia sobre ela foi perdido através dos tempos. Sendo assim, descrições, mitos e informações sobre ela são escassos.

Seu nome e funções têm relação com a Deusa grega Eos, Deusa do Amanhecer na mitologia grega. Alguns historiadores dizem que ela é meramente uma das várias formas de Frigg (deusa indo-européia, esposa de Odin), ou que seu nome seria um epíteto para representar Frigg em seu aspecto jovem e primaveril. Outros pesquisadores a associam à Astarte (deusa fenícia) e Ishtar (deusa babilônica), devido às similaridades em seus respectivos festivais da Primavera.

Dizem as lendas que Eostre tinha uma especial afeição por crianças. Onde quer que ela fosse, elas a seguiam e a deusa adorava cantar e entretê-las com sua magia.

Um dia, Eostre estava sentada em um jardim com suas tão amadas crianças, quando um amável pássaro voou sobre elas e pousou na mão da deusa. Ao dizer algumas palavras mágicas, o pássaro se transformou no animal favorito de Eostre, uma lebre. Isto maravilhou as crianças. Com o passar dos meses, elas repararam que a lebre não estava feliz com a transformação, porque não mais podia cantar nem voar.

As crianças pediram a Eostre que revertesse o encantamento. Ela tentou de todas as formas, mas não conseguiu desfazer o encanto. A magia já estava feita e nada poderia revertê-la. Eostre decidiu esperar até que o inverno passasse, pois nesta época seu poder diminuía. Quem sabe quando a primavera retornasse e ela fosse de novo restituída de seus poderes plenamente pudesse ao menos dar alguns momentos de alegria à lebre, transformando-a novamente em pássaro, nem que fosse por alguns momentos.

A lebre assim permaneceu até que então a primavera chegou. Nessa época os poderes de Eostre estavam em seu apogeu e ela pôde transformar a lebre em um pássaro novamente, durante algum tempo. Agradecido, o pássaro botou ovos em homenagem a Eostre. Em celebração à sua liberdade e às crianças, que tinham pedido a Eostre que lhe concedesse sua forma original, o pássaro, transformado em lebre novamente, pintou os ovos e os distribuiu pelo mundo.

Para lembrar às pessoas de seu ato tolo de interferir no livre-arbítrio de alguém, Eostre entalhou a figura de uma lebre na lua que pode ser vista até hoje por nós.


Eostre assumiu vários nomes diferentes como Eostra, Eostrae, Eastre, Estre e Austra. É considerada a deusa da fertilidade plena e da luz crescente da Primavera.

Seus símbolos são a lebre ou o coelho e os ovos, todos representando a fertilidade e o início de uma nova vida.

A lebre é muito conhecida por seu poder gerador e o ovo sempre esteve associado ao começo da vida. Não são poucos os mitos que nos falam do ovo primordial, que teria sido chocado pela luz do Sol, dando assim vida a tudo o que existe.

Eostre também é uma deusa da pureza, da juventude e da beleza. Era comum na época da primavera recolher o orvalho para banhar-se ritualisticamente. Acreditava-se que orvalho colhido nessa época estava impregnado com as energias de purificação e juventude de Eostre, e por isso tinha a virtude de purificar e rejuvenescer.

Fonte: Wikipedia

sábado, 16 de março de 2013

A Escolha de Seu Par


Há trinta anos, os adolescentes encontravam o sexo oposto em bailes de salão organizados por clubes, igrejas ou pais responsáveis preocupados com o sucesso reprodutivo de seus rebentos.

Na dança de salão o homem tem uma série de obrigações, como cuidar da mulher, planejar o rumo, variar os passos, segurar com firmeza e orientar delicadamente o corpo de uma mulher.

Homens levam três vezes mais tempo para aprender a dançar do que mulheres.

Não que eles sejam menos inteligentes, mas porque têm muito mais funções a executar.

Essa sobrecarga em cima do homem permite à mulher avaliar rapidamente a inteligência do seu par, a sua capacidade de planejamento, a sua reação em situações de stress.

A mulher só precisa acompanhá-lo. Ela pode dedicar seu tempo exclusivamente à tarefa de avaliação do homem.

Uma mulher precisa de muito mais informações do que um homem para se apaixonar, e a dança permitia a ela avaliar o homem na delicadeza do trato, na firmeza da condução, no carinho do toque, no companheirismo e no significado que ele dava ao seu par.

Ela podia analisar como o homem lidava com o fracasso, quando inadvertidamente dava uma pisada no seu pé. Podia ver como ele se desculpava, se é que se desculpava, ou se era do tipo que culpava os outros.

Essa convenção social de antigamente permitia ao sexo feminino avaliar numa única noite vinte rapazes entre os 500 presentes num grande baile.

As mulheres faziam um verdadeiro teste psicológico, físico e social de um futuro marido e obtinham o que poucos testes psicológicos revelam.

Em poucos minutos conseguiam ter uma primeira noção de inteligência, criatividade, coordenação, tato, carinho, cooperação, paciência, perseverança e liderança de um futuro par.

Infelizmente, perdemos esse costume porque se começou a considerar a dança de salão uma submissão da mulher ao poder do homem, porque era o homem quem convidava e conduzia a mulher.

Criaram o disco dancing, em que homem e mulher dançam separados, o homem não mais conduz nem sequer toca no corpo da mulher.

O som é tão elevado que nem dá para conversar, os usuais 130 decibéis nem permitem algum tipo de interação entre os sexos.

Por isso, os jovens criaram o costume de "ficar", o que permite a uma garota conhecer, pelo menos, um homem por noite sem compromisso, em vez de conhecer vinte rapazes numa noite, também sem compromissos maiores.

Pior: hoje o primeiro contato de fato de um rapaz com o corpo de uma mulher é no ato sexual, e no início é um desastre.

Acabam fazendo sexo mecanicamente em vez de romanticamente como a extensão natural de um tango ou bolero.

Grandes dançarinos são grandes amantes, e não é por coincidência que mulheres adoram homens que realmente sabem dançar e se apaixonam facilmente por eles.

Masculinizamos as mulheres no disco dancing em vez de tornar os homens mais sensíveis, carinhosos e preocupados com o trato do corpo da mulher. Não é por acaso que aumentou a violência no mundo, especialmente a violência contra as mulheres. Não é à toa que perdemos o romantismo, o companheirismo e a cooperação entre os sexos.

Hoje, uma garota ou um rapaz tem de escolher o seu par num grupo muito restrito de pretendentes, e com pouca informação de ambas as partes, ao contrário de antigamente.

Eu não acredito que homens virem monstros e mulheres virem megeras depois de casados. As pessoas mudam muito pouco ao longo da vida, na realidade elas continuam a ser o que eram antes de se casar. Você é que não percebeu, ou não soube avaliar, porque perdemos os mecanismos de antigamente de seleção a partir de um grupo enorme de possíveis candidatos.

Fico feliz ao notar a volta da dança de salão, dos cursos de forró, tango e bolero, em que novamente os dois sexos dançam juntos, colados e em harmonia. Entre o olhar interessado e o "ficar" descompromissado, eliminamos infelizmente uma importante etapa social que era dançar, costume de todos os povos desde o início dos tempos.

Se você for mãe de um filho, ajude a reintroduzir a dança de salão nos clubes, nas festas e nas igrejas, para que homens aprendam a lidar com carinho com o corpo de uma mulher.

Se você for mãe de uma filha, devolva a ela a oportunidade que seus pais lhe deram, em vez de deixar sua filha surda, casada com um brutamontes, confuso e insensível idiota.

Fonte: Revista Veja 2004, página 22

sexta-feira, 8 de março de 2013

Dia Internacional das Mulheres


Certo dia parei para observar as mulheres e só pude concluir uma coisa: elas não são humanas. São espiãs. Espiãs de Deus, disfarçadas entre nós.

Pare para refletir sobre o sexto-sentido. Alguém duvida de que ele exista? E como explicar que ela saiba exatamente qual mulher, entre as presentes, em uma reunião, seja aquela que dá em cima de você? E quando ela antecipa que alguém tem algo contra você, que alguém está ficando doente ou que você quer terminar o relacionamento? E quando ela diz que vai fazer frio e manda você levar um casaco? 

As mulheres são mães! E preparam, literalmente, gente dentro de si. Será que Deus confiaria tamanha responsabilidade a um reles mortal? E não satisfeitas em gerar a vida, elas insistem em ensinar a vivê-la, de forma íntegra, oferecendo amor incondicional e disponibilidade integral. Fala-se em "praga de mãe", "amor de mãe", "coração de mãe"...Tudo isso é meio mágico... Talvez Ele tenha instalado o dispositivo "coração de mãe" nos "anjos da guarda" de Seus filhos (que, aliás, foram criados à Sua imagem e semelhança).

As mulheres choram. Ou vazam? Ou extravasam? Homens também choram, mas é um choro diferente. As lágrimas das mulheres têm um não sei quê que não quer chorar, um não sei quê de fragilidade, um não sei quê de amor, um não sei quê de tempero divino, que tem um efeito devastador sobre os homens...

É choro feminino. É choro de mulher...

Já viram como as mulheres conversam com os olhos? Elas conseguem pedir uma a outra para mudar de assunto com apenas um olhar. Elas fazem um comentário sarcástico com outro olhar. E apontam uma terceira pessoa com outro olhar. Quantos tipos de olhar existem? Elas conhecem todos...

Parece que freqüentam escolas diferentes das que freqüentam os homens! E é com um desses milhões de olhares que elas enfeitiçam os homens. En-fei-ti-çam! E tem mais! No tocante às profissões, por que se concentram nas áreas de Humanas? Para estudar os homens, é claro! Embora algumas disfarcem e estudem Exatas...

Nem mesmo Freud se arriscou a adentrar nessa seara. Ele, que estudou, como poucos, o comportamento humano, disse que a mulher era "um continente obscuro". Quer evidência maior do que essa? Qualquer um que ama se aproxima de Deus. E com as mulheres também é assim. O amor as leva para perto dele, já que Ele é o próprio amor. Por isso dizem "estar nas nuvens", quando apaixonadas.

É sabido que as mulheres confundem sexo e amor. E isso seria uma falha, se não obrigasse os homens a uma atitude mais sensível e respeitosa com a própria vida. Pena que eles nunca verão as mulheres - anjos que têm ao lado.

Com todo esse amor de mãe, esposa e amiga, elas ainda são mulheres a maior parte do tempo. Mas elas são anjos depois do sexo-amor. É nessa hora que elas se sentem o próprio amor encarnado e voltam a ser anjos. E levitam. Algumas até voam. Mas os homens não sabem disso. E nem poderiam. Porque são tomados por um encantamento que os faz dormir nessa hora.

Autor: Luis Fernando Veríssimo

Feliz Dia das Mulheres!

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O Caminho do Guerreiro


A magia que os antigos chamavam de santo reino ou Reino de Deus, sanctum regno, só é feita para os reis e sacerdotes. Os reis da Ciência são sacerdotes da Verdade e seu reino fica oculto para a multidão. Os reis da Ciência são os homens que Conhecem a Verdade e que a Verdade tornou livres [1].

Um homem vai para o conhecimento como vai para a guerra, bem desperto, com medo, com respeito e com uma segurança absoluta [2].

Nem todos os Homens de Conhecimento são feiticeiros mas todo feiticeiro tem de ser, antes, um homem de Conhecimento e o Conhecimento somente pode ser conquistado por meio da disciplina do Caminho do Guerreiro. Em linhas gerais, esse Caminho exige quatro Atitudes:

RESPEITO. Pelo Conhecimento que adquire ao longo de seu treinamento, respeito por todas as criaturas do mundo, respeito por si mesmo.

TER MEDO.  Aceitar o medo, reconhecer o medo e enfrentar o medo.

Estar DESPERTO. Significa estar atento, manter a percepção aguçada em relação a todos os aspectos de uma situação ou realidade.

CULTIVAR ATÉ POSSUIR uma CONFIANÇA inabalável em si mesmo. Os homens de pouca fé, jamais caminharão sobre as águas...

Para o ocultista ocidental europeizado, também existem uatro regras indispensáveis para chegar a possuir a Ciência (Conhecimento) e Poder dos Magos, regras que somente um Guerreiro determinado consegue observar:

Uma inteligência esclarecida pelo estudo.

Uma audácia que nada faz parar.

Uma Vontade que nada pode quebrar ou enfraquecer.

Uma discrição que nada pode corromper.

Estas regras são resumidas pelo mestre Eliphas Levi em quatro palavras: Saber, Ousar, Querer, Calar... Eis os quatro verbos do Mago. Estes quatro verbos podem combinar-se de quatro modos [3].

As atitudes de guerreiro estão relacionadas ao Conhecimento transcendente da Realidade porque este tipo de Conhecimento exige:

Ousadia e coragem;

O saber instintivo inicial de que o mundo e a realidade são muito mais, algo além do que pode ser percebido pelas aparências;

Um caráter ou modo de ser repleto do mais rigoroso sentido de valor de dignidade e honra que nunca faz concessões à mediocridade das soluções mais fáceis, que nunca se vende;

Uma disciplina impecável em práticas de treinamento (inclusive de preparação física) que jamais serão suficientes, são diárias, obrigatórias; práticas para a vida inteira.

Assim, quando um ser humano, homem ou mulher, resolve buscar o Conhecimento sobre-humano ele está fazendo uma escolha que significa trilhar um caminho árduo, frequentemente solitário e perigoso.

Escolher seguir esse caminho é escolher ir para a guerra. Uma guerra sem tiros e bombas, na qual os inimigos serão os apelos piegas de todos aqueles cruzam o caminho do guerreiro e, perplexos, não compreendem suas atitudes, sua sobriedade, sua recusa diante de situações, privilégios, mimos, confortos que seduzem a grande maioria dos mortais.

O guerreiro diz NÃO, quando os outros dizem SIM! Não ao casamento convencional, não ao emprego convencional, não aos hábitos convencionais, não aos vícios da carne/corpo (alimentos preferidos, sexo, drogas e sono, por exemplo), não às mordomias ainda que tenha se tornado rico.

Porque o guerreiro sabe que entregar-se a essas "facilidades" ou "tentações" significa tornar-se escravo do corpo, vulnerável a tudo que, inevitavelmente, mais cedo ou mais tarde, vai transformá-lo em um fraco destruindo ou, no mínimo, adormecendo todo o poder conquistado. Um guerreiro domina seu corpo, jamais é dominado por ele.

C. Castaneda, compara a formação de um guerreiro ao aprendizado de um caçador cujas principais estratégias são:

Ser impecável em todas as suas ações e disciplinas;

Estar sempre alerta, sempre pronto para o combate. Nada pode surpreender ou assustar um guerreiro por mais de uma fração de segundo.

Não possuir rotina porque, assim, o guerreiro torna-se imprevisível.

Alcançar o completo desapego a toda sua história pessoal vivida antes de começar a trilhar o Caminho do Guerreiro. Desapego em relação à família, aos amigos, ao mundo convencional e, apesar de desapegado, ainda ser capaz de amar sinceramente, principalmente as pessoas. Porque o amor não implica posse, controle, proximidade intermitente e apego.

Desapego do mundo convencional, "normal", porém sem esquecer seu sistema, seu modo de funcionamento porque conhecer bem a normalidade do mundo é útil na hora de agir em inúmeras ocasiões. O guerreiro conhece as estratégias, a linguagem do mundo das convenções, mas o mundo das convenções não conhece as estratégias nem a linguagem do guerreiro.

O desleixo, a desatenção, a rotina, o apego e mesmo a própria identidade e a identidade dos seres amados pelo guerreiro, tudo isso é "calcanhar de Aquiles"; são pontos fracos que sempre poderão ser utilizados contra o guerreiro, para torná-lo refém de suas afeições.

Ou seja, um guerreiro não deixa pegadas no caminho, não morde iscas, conhece-as de longe. Suas atitudes não podem ser previsíveis porque isso o torna vulnerável e vulneráveis as pessoas que ele ama ou pretende proteger e ajudar.

Seguindo as Leis do Caminho o guerreiro torna-se inacessível e ninguém pode encontrá-lo a menos que ele queira. 

"Ninguém sabe o seu nome... assim, a morte não o encontra"
Waterworld, o filme

[1] LEVI, Dogma e Ritual da Alta Magia, pg. 72, 1983

[2] CASTANEDA, pg. 25, 1968

[3] LEVI, 1985

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Equivalência da Forma


No século XXI as mídias democratizaram a informação. Uma informação se espalha como rastilho de pólvora e a facilidade de se correlacionar sabedorias diferentes, comparando duas páginas de internet acabou por simplificar o processo. Exige-se muito menos tempo do que no passado, quando pesquisas duravam uma infinidade de tempo.

O lado negativo disso, chama-se "autodidatismo". A pessoa acha-se capaz de apreender todo e qualquer conhecimento simplesmente porque fez uma pesquisa na internet ou leu alguns pares de livros. Por isso, vejo pessoas que ao invés de dedicar-se a aprender ocultismo ou qualquer religião de fato, preferem unicamente consultar uma ou outra fonte, acreditando piamente que podem revelar o que os sábios demoram tempos razoáveis para adquirir, até que pudessem transmitir aos seus alunos.

Na cabala, há um conceito que os sábios nos transmitem há milhares de anos, que hoje é chamado de equivalência da forma. Acredito que esse conceito se aplique a qualquer texto de características magísticas, como a Torá, a Bíblia, o Tao, o Talmud, o Zohar, entre outros. Tais textos foram escritos por pessoas que estavam sob efeito de forte Ruach Hakodesh (Inspiração Divina), o que nos leva simplesmente à conclusão que existem códigos em seus escritos. É verdade que todo código pode ser quebrado, mas trata-se de algo tão engenhoso, que os mistérios para a revelação e entendimento da sabedoria ocultos nestes livros, não são algo que estão fora e sim, dentro do "decodificador".

Proponho um exemplo: imagine que você ama uma mulher, e que ela não sabe nada disso. Você a admira pela cultura que ela tem, porque é inteligente, se comunica bem e aprecia música clássica. Sabe falar sobre várias coisas, em especial cinema, literatura e teatro. É muito correta com os assuntos do trabalho e em todas as ocasiões possíveis está folheando um livro. Você então se olha e constata que odeia ler, não é interessado em cinema, música, assim como acha teatro um saco. Está num trabalho por falta de opção melhor, o que o torna extremamente desleixado com os assuntos dele. Não estou dizendo que você precisa ser idêntico à pessoa para que se apaixonem, mas é preciso ter uma proximidade e questões internas afins, isto é o caminho para a equivalência de forma.

Então você aprende que se realmente quiser se aproximar da mulher de seus sonhos, você só tem uma opção. Buscar as qualidades que lhe faltam e que podiam causar interesse nela, e as qualidades que você já possui você precisa refiná-las, até que levem automaticamente à uma proximidade. Com certeza as suas chances sairão de 0% para algo mais elevado. Pode ser que você não conquiste essa mulher, mas certamente abrirá as portas para alguém semelhante na sua vida.

A verdade é que usei um exemplo cotidiano para explicar algo profundamente espiritual. Em Cabala para que possamos desvendar certos códigos, é necessário que nos aproximemos do alvo a ser desvendado. Se pegarmos um livro como o Zohar, para entendê-lo não se trata somente de uma questão de leitura, mas sim uma aproximação espiritual com o autor daquele livro. Isto significa que é preciso que eu tenha uma aproximação com as qualidades daquele autor, para que possa de fato vir a compreendê-lo.

Mas como posso compreender ou provocar um estado que vai me levar até a equivalência de forma com os autores desses livros, se eu nem ao menos conheço as características espirituais que eles cultivavam? Aí entra o papel do Rav (Mestre). Tendo ele percorrido tal caminho, ele será capaz de evocar situações, através das quais estes estados serão atingidos, até que você vai ler o livro ou partes dele, uma, duas, três vezes, sentindo que em cada lida, um novo véu está sendo revelado. Aí, a equivalência de forma vai acontecendo e quanto mais eu cultivo em mim as características daqueles sábios, mais eu os compreendo e mais o conteúdo transmitido por eles fica claro.

No final das contas, tudo no universo nos "empurra" para a equivalência de forma, já que o objetivo final do ser humano é a similaridade com Deus. Até que sejamos tão parecidos com ele em qualidades espirituais, até o ponto em que não haja eu ou Deus e sim, nós. Como na matemática cabalística: 1 + 1 = 1.